segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Laranja não mecânica, mas fluída.


Eles se encontraram, e este encontro aconteceu no dia do nosso aniversário. De Luciana Cañete:

"De um vestido, pode-se o pensar, senso comum: fútil, supérfluo, material. Mas eu tive um encontro anímico, espiritual, transcendental e vislumbrei a máquina do mundo drummondiana, o alef borgiano por alguns segundos devido a um vestido. Não qualquer um, nem de qualquer cor. Laranja, não mecânica, mas fluida. E um detalhe inusitado: cabos de aço, como alças. Inspirado não no consumo sem sentido, mas no efêmero e delicado – ainda que imenso – de uma instalação de Christo e Jeanne-Claude. Na semana de comemoração do aniversário da Heroína, lembrei como, quem acha uma fotografia antiga, desse vestido – foi a primeira peça do Alexandre que me marcou profundamente. Pensei “quem será que o terá comprado” com uma sensação de posse inexplicável. Sempre tive dificuldade de encontrar vestidos longos, pra festa, pelo sentimento de que é tudo igual, tudo é muito e ao mesmo tempo nada. Mas com este vestido não, pensei assim que o vi. Eu iria a qualquer festa, descalça, sem convenções, iria na posse de qualquer coisa, na troca de guardas do palácio, no carnaval, no batismo, em casamentos, eu até me casaria com ele. Tamanho o amor e a liberdade que ele me transmitiu. Mas não o comprei...ia voltar e não voltei. E agora sei que tudo ficou mais bonito assim. Porque no dia do aniversário de 7 anos da Heroína, veja bem, 7 não é um número qualquer. Pisei no atelier loja, com um presente e com a ideia de comprar o presente de Natal da minha mãe. Eis que, no fundo da loja: laranja! O vestido. Imaginei que estivesse ali só exposto, como obra de arte que é, em retrospectiva das coleções. Já fazia uns três anos que o tinha visto, voltei na loja outras vezes mas ele não estava. Então, perguntei, como quem não quer nada e: sim, ele estava novamente à venda depois de 2 anos de uma espera infrutífera. Ele me esperou, ele me pertencia. Uma ponte, como a da instalação que o inspirou, se fez, invisível, entre antes e agora. O vestido me fez recobrar os trilhos, amenizar o descompassado da vida e voltar a sentir que as coisas que nos pertencem nos encontram. Heroína é mais que uma loja, é um lugar de encontros."

Assista o poema de Luciana Cañete: https://www.youtube.com/watch?v=mUDAyoAreWo

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