segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Benedito #heroínaalexandrelinhares7anos


O Benedito diz: "Daí eu escolhi cinza, em malha, sobreposta, com nervuras na frente. Eu sabia que as pessoas estariam me observando, que eu seria o centro das atenções naquela noite. E assim foi. Eu, o palestrante; eles, os observadores. Não quis eu o desespero do amarelo, tampouco esse ardor dúbio do vermelho. Quis o cinza, uma vaga ideia de neutralidade. Não desejei o frescor do branco, a clareza discursiva do preto. Cinza, cinza claro, cinza em silêncio. Cinza a dizer algo baixinho, mas evidente e sincero, como as juras sob um céu noturno.

Gosto dos espelhos, de seus jogos nem sempre lógicos, gosto de sua mágica e da tradição de vê-los malditos, pois que multiplicam os homens. Gosto de pensar que a arte é assim, multiplicadora e irreverente. Eu queria algo que refletisse o que eu mesmo ia andando a dizer. A malha seria tímida, mas contundente, pois não queria que fosse mais do que eu falaria.

Ela tinha aplicações sobrepostas. Eu falaria não de pessoas e sim de vidas, vidas que durante alguns meses tinham frequentado meus pensamentos e forçado gentilmente algumas ações. A malha recortada em tiras e costurada lado a lado seria como essas vidas, paralelas naquele fragmento de tempo, voláteis e fixas a um só tempo.

Ao saber de Alexandre Linhares que as tiras trabalhariam, que não seriam as mesmas, estava ali a última chave para minha palestra: assim como os trabalhos dos dez gravadores, assim como eles mesmos, as tiras mudariam, não seriam as mesmas ao sairmos do museu, como um líquido sagrado sorvido na cerimônia, a fazer parte do corpo, como a fumaça de um turíbulo que passa, deixando um rastro que se apaga no ar, mas cujo cheiro permanece, como um beijo que termina, doce ou quente, mas que deixa mais que lembranças.

Foi minha primeira peça Alexandre Linhares, na palestra que fiz para a inauguração da exposição “A imagem (des)construída”. A peça cinza passou a fazer parte da exposição numa sucessão de discursos superpostos. E, claro, passou a ser objeto de desejo"


E você? Tem uma história incrível para nos contar? Você tem até dia 04.12 para enviar. Corre pra lá:https://www.facebook.com/heroinaalexandrelinhares/photos/a.196270593804924.39838.143855952379722/686502931448352/?type=1&theater

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