terça-feira, 13 de agosto de 2013

| As 10 coleções da Heroína - Alexandre Linhares que você precisa conhecer

Mais do que peças de roupa, nos utilizamos do pano para contar histórias. Antes do próximo lançamento | 20.08.013 no Piola Curitiba, as 10 coleções da Heroína - Alexandre Linhares que você precisa conhecer:

10. "ipê roxo"

Ano de lançamento: 2010
Estrela: Princesa Natália

Talvez a coleção mais poética já lançada pela Heroína - Alexandre Linhares, Ipê Roxo discorre sobre o tapete florido que se estendia todas as manhãs no caminho de casa para o ateliê. Milhares de flores amontoadas formando uma passarela, uma trilha mágica rumo ao mundo encantado da Heroína. Para esta coleção, Alexandre Linhares escreveu um texto sobre a força da modelo inicial, Eliana Linhares, que desistiu da coleção no dia das filmagens. A Princesa Natália preencheu brilhantemente este lugar, dando novo tom até para a poesia que embasa a coleção. O horário das fotos foi alterado e uma lanterna precisou ser utilizada na produção do material audio-visual. A poesia foi então musicada por César Munhoz com a voz do Alexandre Linhares.

flores no chão
eu nu 
flores dentro de um pão

se não amarelo ou roxo 
o importante é que seja um ipê
mas se não um ipê
donde serão as flores no chão?



9.  "vazio"

Ano de lançamento: 2013
Modelos: Alexandre Linhares e Thifany F.

Um questionamento sobre o "não ter voz", diferente de não ter o que dizer.
Tudo começa com a camiseta sem mensagem no peito, trazida direto do texto "manifesto da mulher e da camiseta" interpretado por Maite Schneider na abertura do desfile de "Heroínas Aladas" (2009).
A figura do casal é colocada mais uma vez frente à frente, em oposição, integrando-se, completando o todo. A imagem é contemplativa, estática. A inexpressividade é recorrente quando o Alexandre se doa em corpo no processo de uma coleção.
No além-pano, Thifany registrou em vídeo o retirar e colocar de peças do Alexandre, sentado num banco da Rua XV de Novembro. A extensão do movimento foi repetida com as personagens alternadas na feira de domingo da Praça 29 de Março. 

"Eu estou usando a mesma camiseta, com o mesmo cheiro e com o mesmo buraco nulo que não diz nada. Eu estou usando a mesma camiseta que você usou ontem e que tinha a minha cara de palhaço estampada, em silêncio, que não dizia nada. O espaço vazio não diz nada (não por falta de assunto, mas) por falta de voz. É pano demais sem sentido, é cor que só segue a cor que eu sei de cor. Eu sou o palhaço mudo na sua camiseta vazia que não diz nada. (8 x) Se eu segurar de um lado a faixa branca e você segurar do outro, conseguiremos parar o trânsito e bloquear um cruzamento com uma faixa que não dirá nada. Nós gritaremos bem alto até perder a voz e não teremos dito nada. Causaremos tumulto para dizer nada. Eu posso sentar no computador e dar com os dedos no teclado como num piano. Por horas. Posso ritmar, tocar, até quebrar tudo, o teclado partir e os dedos romperem-se em sangue. Na tela, não terei escrito nada. Eu me sinto fedendo, atado. Uso por mais um dia a mesma camiseta."





8. "deus"

Ano de lançamento: 2011
Estrela: Maite Schneider

Para a 1ª participação no PBC, a Heroína - Alexandre Linhares mostrou peças cujo tema central era o livre arbítrio, onde cordas em algodão possibilitavam a modelagem das peças - variantes em tons de branco, vermelho, marrom e verde (estes ilustrando a saída da vida da água e o anterior às emoções humanas) - no corpo, ao gosto de cada pessoa. O desfile foi ritmado pela voz de Jô Marçal, musicando a Mãe Natureza parindo todo o substrato vivo sobre a superfície da Terra, em produção musical de César Munhoz.
O filme que integra a coleção mostra Alexandre Linhares e a estrela Maite Schneider nus, de passagem pela Terra num hotel de beira-de-estrada. A coleção foi muito bem recebida pela crítica, e nuances antes ocultas da visão do criador foram interpretadas como a Teoria das Cordas e o cordão umbilical que liga o Ser à sua matriz principal.

a esfinge que ri, me ama?
me abrasse e me amasse.
me amasse.
se me amasse, me amava.
escuta: "as batidas do meu coração"
e me responda: "quando foi, então,
que deus criou o algodão?"
 



7. "à margem e à sombra"

Ano de lançamento: 2011
Estrela: Livia Deschermayer

Aos domingos de manhã, o casal da Heroína, buscando de bicicleta novos lugares para passear, encontra - à margem da linha do trem e à sombra de uma sociedade sedenta por consumo, um "vilarejo" de pessoas simples, felizes, completas, que vivem em harmonia e se respeitam - mas que precisam da sombra da sociedade, assim como as orquídeas precisam da sombra das samambaias no seu lugar ao sol, assim como a Heroína - Alexandre Linhares precisa da sombra da indústria esmagadora para continuar  fazendo o seu trabalho autoral, assim como a cidade precisa da margem da linha do trem para nutrir a metrópole viva.
Surge então mais um trabalho poético. Fotos de Gio Soifer 
Um outro detalhe de “à margem e à sombra” que merece destaque, são peças oxidadas, submetidas à ferrugem, colhida em tampos no chão, no centro da cidade.

Quando eu falo de sombras, não me refiro ao lado sem luz. Lá é breu e sombras estão intensamente ligadas à claridade. À sombra, florescem vidas delicadas e sem espinhos, frescas em composição - e orquídeas precisam de um ambiente assim.

Na minha jornada incansável à procura do que me surpreenda e que possa cobrir lacunas ainda com frestas no meu interior, me deparei com uma miragem. À margem direita do trilho do trem, habitam pessoas inocentes em si e sombreadas por uma sociedade que a muito não vê além do quadro da alienação. Ilhadas nelas mesmas, estão expostas ao nada e corrompidas pela inocência de uma locomotiva ligeira e breve, que venta em meia dúzia de camisetas no varal. Eu cheguei até lá e são essas pessoas que me inspiram nessa coleção.



“à margem e à sombra” tem foco nas mangas – deliciosa sombra da mangueira, manga doce; manga que escorre pelas mangas... “arregaça essa manga menino!.. não, não limpa o nariz na manga!”.






6. "sem título º1, ou autocura" 

Ano de lançamento: 2011
Estrela: Lívia Deschermayer

Auto-cura, é um processo de recuperação, motivado e dirigido pelo próprio paciente, muitas vezes guiado apenas pelo instinto. Tal processo encontra sortes distintas, devido à sua natureza amadora, embora a auto-motivação é um trunfo importante. O valor da auto-cura, reside na sua capacidade de ser adaptado à experiência, e requisitos únicos, de cada indivíduo. 
"sem título º1, ou autocura" é a coleção onde admitimos para nós mesmos que o resultado do nosso processo criativo é arte. Esta coleção foi desenvolvida somente com a nossa bagagem artística inconsciente.
Fotos de Gio Soifer.



5. "sim,sim,sim"

Ano de lançamento: 2010
Estrela: Ercília de Sá Ribeiro, Jô Marçal e Thifany F.

Num comparativo à entrega que a mulher faz no casamento, Alexandre Linhares se entrega, vestido de noiva, ao seu trabalho criativo autoral. Liberto de amarras, realiza a performance "sim,sim,sim" ficando parado, imóvel, no cruzamento entre a Av. Visconde de Guarapuava e Alf. Poli, buscando signos para a coleção que estava compondo. Convidou 13 artistas para cada um, a seu modo, registrarem o processo de "sim, sim, sim". 
Esta vivência, mais os registros, culminaram em resultado-roupa numa das coleções mais significativas de sua história, até agora.
Neste trabalho, escreveu a letra da música "sim,sim,sim", que tem melodia/produção de César Munhoz, cantada pela estrela Jô Marçal.
No vídeo desta coleção, são mostrados 3 tempos na vida da mulher idealizada nesta coleção. Quando jovem, lamentando a perda do seu. Já realizada, firme ao abandonar o seu. Na velhice, surpreendida com o "nunca tivera". Ainda nesta, brinca com a identidade de gênero.


pensando que “sim”,

falando que “não”...

mesmo que mostrando um “sim” entre os lábios,

mesmo que meus lábios,

nem assim,

nem pra ti nem pra mim,

nem mesmo em mim,

agora sim,

é pra mim

sim sim sim



mas se eu não tivesse dito “sim”?



4. "nos seus olhos"

Ano de lançamento: 2010
Estrela: Jackie Dolstoy

"Nos seus olhos" é a primeira coleção apresentada em espaço próprio na casa de moda Heroína - Alexandre Linhares.
O tema consagrado para este trabalho foi Santa Luzia e os olhos, a cor dos olhos, a ressonância do olhar. A estrela de "nos seu olhos" foi escolhida através de campanha cultural, feita na internet, buscando a cara desta coleção, onde os interessados de qualquer gênero deveriam preencher um texto estando ciente de que seriam nomeados "a estrela" da coleção. A escolhida então foi a atriz Jackie Dolstoy que atua junto a Maite Schneider no filme dirigido por Gabriel Piovezan e produzido por César Munhoz. A coleção foi lançada com desfile na loja Heroína e mais tarde, teve exibição do filme no Cine Clube | Vídeo 1.
Antes de toda a apresentação formal, 2 peças foram apresentadas em desfile na Mercedez-Benz Fashion Week, na Alemanha, junto da IC!Berlin (empresa de óculos) e para nos representar, junto das peças, fora enviado outro vídeo também dirigido por Gabriel Piovezan,  que ilustra a tradicional oração de Santa Luzia feita por 3 mulheres da família de Alexandre Linhares, neste: sua mãe, sua irmã e sua sobrinha.
Artisticamente, este vídeo também integra a coleção. 

Mas se eu não puder te ver,

quero sentir isso que você me diz,

quero que você me toque e me diga, sem palavras,

o que brilha nos seus olhos.


Assista Oração de Santa Luzia: http://www.youtube.com/watch?v=Kg0z1okCHZ0



3. "a coleção que discute a camisa-de-força"

Ano de lançamento: 2012
Estrela: Yara Zitronenblatt

O trabalho coloca em cheque valores imaculados da sociedade que nos ata em busca de um "ideal de sociedade saudável". O desfile foi apresentado no PBC tendo como trilha sonora texto escrito e narrado por Alexandre Linhares, musicado por César Munhoz, e discorre uma história em que parte é vivida com as roupas na passarela e parte acontece dentro da cabeça do espectador. A fuga da loucura, a ideia de desamarrar-se vem representada em alfaiataria impecável e minuciosos bordados feitos à mão. O vestido que fecha o desfile, em tule de algodão, demorou quase 3 semanas sendo bordado em paetê pela Thifany.
Para compor esta coleção, Alexandre, através das redes sociais, lançou campanha pedindo para que, quem se sentisse confortável, lhe enviasse foto de suas genitálias de forma anônima, numa busca pela expressão bruta e pura, sem amarras e sem rosto. Outro destaque do desfile é o "vestido vagina", em seda pura, que tem bordado pentelho por pentelho em linha de algodão. Ao final do desfile, Alexandre Linhares recebe as felicitações com seu corpo nu estampado na camiseta que usa, foto de Gio Soifer.
O complemento da coleção colocado nas araras tem como modelo a amiga Yara Zitronenblatt que também atua no filme que integra a coleção. Fotos de Gio Soifer.


Se você for mulher, tudo pode ser mais difícil. Se a roupa é transparente vão dizer que você é puta. Se a roupa for solta no corpo vão dizer que você é gorda. Se for escura, então você está velha. Se usar maquiagem é porque quer dar. Desenvolva o hábito de não se maquiar e eles vão perguntar se está tudo bem. Eles só querem que você seja um deles. Pegue a bolsa mais feia de todas, ruim de carregar, mas é importante pensar no pior modelo. Se tiver vontade de chorar ou uma crise de arrependimento depois da compra, olhe para os lados e veja que todas elas usam bolsas iguais a sua e você precisa dela. Esqueça a bolsa e pense no cinto, claro. Todas elas estão com o cinto dividindo o corpo ao meio. Porém, todas estão confiantes; foi lhes dito que deveria ser assim. Eles disseram pra você fazer assim. Eles não querem que você pense. Eles não querem que você pense. Eles não querem que você pense. Mas isso é problema deles; o seu erro é não questionar o que eles dizem.





2. "última sessão"

Ano de lançamento: 2012
Estrela: Thifany F.

"última sessão" retrata o descaso com a cultura local, e tem como pano de fundo o fechamento dos cinemas de rua de Curitiba, um pouco da história da cidade e a história pessoal da vida do estilista que se interpõe em várias vozes sobrepostas à sua (a voz de todo mundo), contando numa narrativa não linear em coincidências e acasos. O desfile tem 2 convidadas: Marina Ferreira - estrela em vários momentos -  e Maite Schneider que contribui com performance ao vivo que mostra a efemeridade do nosso desejo de consumir. Tudo mais é história. 

As cadeiras foram esvaziando como os dentes foram caindo da minha boca e a bilheteria tendo que lutar com outras novas, surgidas fora, importadas para cá. Indústria, por favor, não me engula. Consuma, mas não me engula. Eu tenho um sonho. O mesmo sonho que a Bibi Ferreira carregava quando veio à estreia do Cine Ritz de que falamos aqui, que teve seu fim ao lado ou embaixo da C&A, alma gigante do fast fashion que faz tão bem pra moda mundial, como o McDonald's contribui para a gastronomia e com a saúde pública. Hoje eu sou 3D. E o meu amor é tecnicolor. Essa é a última sessão, meu povo! Essa é a última sessão, meu irmão, corram! Corram todos, venham, essa é a última sessão! Corram todos, fujam, essa é a última sessão! Tudo descolorindo.



foto: Antonio More / Gazeta do Povo

1. "querido Franz,"

Ano de lançamento: 2011
Modelos: Marina Ferreira e Lano


Numa madrugada de muito trabalho ao som do audiobook de "A Metamorfose" de Franz Kafka, surgiu uma grande admiração e identificação com sua vida e obra. Começa a pesquisa com resultados fascinantes. 
Emocionado ao ler "Carta ao pai", ainda com os pêlos arrepiados desejei que ele me ouvisse e lhe escrevi uma carta, quase íntima, querido Franz, ...

Mais uma coleção com trabalho fotográfico incrível da Gio Soifer, ambientada em uma grande construção que no fundo, apesar de todos os aspectos agregados, resume-se a tijolos e concreto. Abaixo de nossa carapuça, sempre o mesmo osso e o mesmo sangue vermelho nas minhas e nas suas...

Tudo isso resulta em um vídeo estrelado por Marina Ferreira e Lano, este o 1º modelo da Heroína e ambos parceiros de longa data, e com narração em português do Alexandre Linhares e em alemão de Barbara Fingerle Ramina. O alemão preserva a língua-mãe do escritor.



Querido Franz,

Tenho pensado em você nesses dias e concordado com a sua visão de como as coisas são.

Te vejo mártir - por mim - e rogo a ti 3 vezes:

"metamorfoseia-me em bicho-roupa-homem!".

Se no inverno, casacos de mim.

Tenho me questionado: "será que se fizesse algum sentido, eles gostariam mais"?



Querido Franz,

em algum momento, eles devem ter esquecido de "querer ver algo além do que sempre viram".

Eles só sabem que a grafia correta é "vir". Eu penso que nem necessário seria escrever, apenas verdadeiramente "ver" e apreciar, e interiorizar e da próxima vez ter o que...

O que é que eles de fato têm?



Querido Franz,

Metamorfoseia-me!

Todos tiranos, regentes, reis, deuses, porcos e ignorantes.

O senso deles é comum e para o "senso comum", nós, nada somos.

te pergunto de novo: "se fizesse algum sentido, eles entenderiam?"



Com amor,

Alexandre




Pronto para o próximo lançamento? "quadrilátero do milho" terá 4 tempos distintos e se inicia, com a introdução - semeando, no dia 20.08.013 às 20h, no Piola Curitiba. Esperamos você!

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