terça-feira, 3 de outubro de 2017

Nossa Senhora Aparecida (Cida, para os íntimos)


Sim, nós abrimos o desfile com a imagem de Nossa Senhora Aparecida. Mas por quê? O que tem a ver essa santa com o restante do desfile? Onde ela se junta às Bandeiras das 5 Sabedorias?
Há algumas semanas escrevi um texto para a escola Design ao Vivo, onde estudei Ecodesign, falando sobre o "Slow Design" e cito a história dessa peça. Aqui temos bem certo o porquê da Santa aparecer assim, abrindo o desfile. Boa leitura!


Neste momento contemplo o slow. São 1:36 a.m. e me vejo sentado numa cadeira Cimo, bordando uma Nsa. Sra. Aparecida pro nosso desfile “de 10 anos de trabalho”, daqui 2 semanas. O motivo de estar sendo bordada essa hora, em casa, é porque ela alude à primeira peça, que sintetiza o início da marca, bordada pela Thifany numa camiseta que “apareceu para aos olhos certos” e fez nosso trabalho acontecer. Essa peça foi bordada pouco a pouco, todas as noites, quando minha companheira chegava do trabalho e seguia na finalização das peças confeccionadas naquele dia. A Santa transpassou semanas de bordado, minuciosamente executada à noite, em casa. No desfile, ela virá maior, preta e branca, pintada num vestido amplo feito com metade de um lençol muito antigo, de algodão, que ganhamos da poeta Priscila Prado. As dimensões e emoções já são outras, mas o bordado por cima da imagem será o mesmo da década passada, com o mesmo preciosismo e a mesma atmosfera na criação: bordada em casa, depois de chegar do trabalho, depois de tomar banho, com uma caneca de chá ao lado. Constantemente, me é questionado o porquê de o trabalho ser feito desta forma, nesse ritmo, a esse custo, com essa carga emocional.. e a única resposta que me brota é a de que “é assim que me faz sentido”. Sei que o mundo é outro do de 10 anos atrás, eu sou outra pessoa e minha companheira é outra pessoa também, mas o brilho da intenção da peça se materializar é o mesmo. Quanto ao lençol de algodão que dá corpo à obra, ele já era antigo há 10 anos, já não era mais usado e já era guardado como memória. Toda a memória e todas as histórias de amor vividas em cima dele, pessoas feitas, o tempo que ele ficou na mão da primeira bordadeira que, num “avesso-perfeito”, bordou as iniciais da noiva, de que agora me aproprio e estou quase pichando um patrimônio, com a interferência de Nsa. Sra. Aparecida, tudo isso vai entrar na passarela com a gente nesse momento e é tudo isso que vai suportar a imagem de uma santa bordada a mão em casa, por noites a fio. Não é um vestido de tecido branco bordado. O slow não foi me ensinado, ele me apareceu. Foi assim que sempre me foi possível de ser feito. Quando eu entrei na escola Design ao Vivo, percebi que o modo que eu construía o meu trabalho é bem semelhante a outros tantos processos de outros criadores e que este processo é chamado de “Slow”, “slow design, slow fashion, slow food, slow life” que vem de encontro ao “fast” do “fast-fashion”, por exemplo. Esse processo é distinto de modismo, não vem de gosto ou vontade, ele é uma forma de viver e de se relacionar com o mundo. Um leque se abriu e a poesia da construção de cada peça, dessa forma, é o combustível e a razão da execução do trabalho.

lá em cima, foto do Valterci Santos
abaixo, foto Neni Glock 


trajar uma peça de roupa é uma expressão artística genuína

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